Na fria madrugada de 8 de junho partimos para Blue Montains, famoso parque nacional localizado duas horas a oeste de Sydney. Pegamos um trem na Central Station e após duas horas estávamos desembarcando em Katoomba, principal cidade da região.
Durante o planejamento da viagem, sabíamos que o frio seria um parceiro fiel e logo que colocamos o pé fora do trem sentimos que todos os alertas para levarmos pesados casacos não foram em vão. Apesar do céu ridiculamente azul, o vento soprava congelante.
Check in no hostel e estávamos prontos para começar desbravar o parque, compramos um café e partimos direto para o Echo Point (centro de informações turísticas).Com mapas e informações das principais atrações nas mãos fomos ver Three Sisters, que além de lindo possui grande importância para a cultura aborígene. Entretanto o que me hipnotizou foi o Mount Solitary, imponente, senhor da situação, reinando tranquilamente no meio de um vale protegido por gigantescos penhascos.
O primeiro dia foi reservado para um roteiro extremamente turístico, essencial para riscar do check list as atrações mais famosas da região. Fizemos o roteiro completo do Scenic World:
Iniciamos pelo Scenic Skyway, bondinho que atravessa um desfiladeiro de 720 metros, com direito a cachoeira e um ângulo diferente do Jamison Vallley com seu único morador, o Mount Solitary.
O próximo brinquedo do “parque de diversões” era um trem, que leva dos penhascos até o vale, mas antes que perguntem:
E dai?
Essa é a “ferrovia” mais inclinada do mundo, não tem a emoção, os gritos e muito menos o frio na barriga de uma montanha russa, mas é divertido.
Caminhamos pelo Scenic Walkway, uma trilha no meio da mata com informações sobre a mineração de carvão no século XIX, a degradação gerada e como foi o reflorestamento e a posterior criação do Parque Nacional de Blue Montains.
Subir tudo aquilo a pé era impossível, então pegamos mais um bondinho para o topo, esse levava o nome de Scenic Cableway. Tudo para turista ver.
Apesar de gastarmos um bom tempo nessas atrações com uma ótima infra-estrutura, andamos muito pelas trilhas do parque e no final do dia estávamos cansados e famintos. Então fomos para um café/restaurante quase na frente do Hostel, o Common Ground Café, logo que entramos já sentimos um clima diferente, como se estivéssemos em um lugar perdido no tempo. Decoração única, toda de madeira, com tantos detalhes que deixaram nossos olhares tontos, sem saber aonde focar. Fomos atendidos por um senhor barbudo, com uma roupa simples e ar sereno. Após uma rápida olhada no cardápio vimos o Brazlian Mate! Sim, como era possíve? Chamamos o garçom e ele nos explicou que o restaurante é mantido apenas por voluntários, todos seguidores de uma religião chamada Doze tribos e alguns dos fiéis fundaram uma filial em Londrina e desde então eles se apaixonaram pela Erva Mate. Clima bom, serviço extremamente atencioso e para completar uma comida deliciosa, feita apenas com produtos cultivados na fazenda dessa comunidade.
Quando saímos do restaurante eram 9:00 da noite e a cidade parecia fantasma, não sobrou outra opção senão ir para o hostel tomar vinho, jogar sinuca e dormir cedo para a maratona que nos aguardava. Planejávamos ir de Katoomba para a vizinha Leura, através das trilhas entre os penhascos, algo em torno de 20 km de caminhada…
Segundo dia
A primeira batalha do dia foi contra a preguiça e a vontade de ficar na cama embaixo do cobertor, vencemos e com um café para “esquentar por dentro” começamos o trajeto. Trilhas bem sinalizadas, com indicações do nível de dificuldade, direção e distância, Durante o caminho, as paisagens que tínhamos a cada mirante eram de tirar o folego e contraditoriamente tivemos a companhia do monte Solitary, sempre revelando diferentes facetas a cada ângulo. O percurso alternava momentos de intensa claridade, horizonte azul e o sol esquentando nossos rostos, com outros, quando adentrávamos a floresta, de intensa penumbra, como se estivéssemos no final de tarde. Após 4 horas chegamos ao nosso destino final, passamos na Bakery House, deliciosa padaria perto da estação de Leura, comemos deliciosas tortas, que nos deram energia para ver o final de tarde na também vizinha, Wentworth Falls.
Dessa vez chegamos esgotados, natural para pessoas sedentárias como nós. Queijo e vinho para relaxar e rapidamente fomos para cama, ainda restava à batalha final.
Terceiro dia
Último dia e o corpo começou a sentir os exageros que cometemos. Hora perfeita para pensarmos estrategicamente nos nossos próximos passos. Optamos por passeios mais tranquilos, para pontos com fácil acesso.
Trem até Blackheath e caminhada de apenas 1,5 km até Govett Leap , cachoeira escolhida aleatoriamente, no famoso estilo “uni duni tê”. O sentimento já era de missão cumprida depois dos outros dois dias não precisávamos ver mais nada, estávamos satisfeitos , mas quando nos deparamos com o Grose Valey, ficamos extasiados, por alguns minutos não conseguíamos formar frases, apenas repetíamos como um mantra:
– Nossa ! Nossa! Nossa!
Estávamos diante de um dos cenários mais lindos da nossa vida, natureza exuberante, uma cachoeira banhada pelo sol gerando um estonteante arco-íris, cacatuas brancas contrastando com o verde da mata, por mais que use adjetivos, jamais conseguirei descrever o sentimento de estar lá, nem as fotos a seguir serão capazes disso. Cansaço? A adrenalina era tanta que queríamos chegar mais próximo.
Pegamos uma trilha de 20 minutos e no exato momento que chegamos no lockout(mirante), um cacatua se desviou do bando veio na nossa direção e pousou em uma árvore, com a cachoeira colorida como papo de fundo e pedindo para que aquele momento fosse eternizado…
Depois disso poderíamos fazer as malas e voltar para casa, mas o vício pelo novo nos fez ir para a histórica Zig Zag Station, fazer um passeio de trem vintage por uma antiga ferrovia. Interessante, fizemos amizade com um casal, ouvimos boas histórias do passado da região, mas depois de tudo o que vimos, chega até ser irrelevante para o conjunto da obra.
Próximo destino Sydney, saudades da nossa cama, dos nossos amigos, da nossa casa de frente para mar…
Missão Cumprida.
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