O frio na Austrália (parte 4)

Por que escolher Austrália? Imagino que para muitos, e me incluo nessa, a certeza de ir para um lugar com lindas praias, natureza exuberante e com um clima parecido com o brasileiro foram fatores preponderantes na decisão, mas fui alertado sobre o outro lado da moeda e o que antes pareciam simples palavras soltas, agora se concretizam e sinto as gélidas correntes trazendo ares diferentes.

O frio chegou sem pedir licença e cá estou a menos de cinquenta metros da praia, encarando-a, admirando-a, mas batendo os dentes só de pensar em sair de sair do meu aconchegante quarto.  Morar de frente para o mar antes sinônimo de praticidade agora serve “apenas” como um cenário lúdico e inspirador. Acordar de manhã virou uma batalha, no uniforme de praia foram acrescidas algumas peças de roupa, saiu cerveja e entrou o vinho tinto, ao invés do churrasco na varanda, sopa embaixo das cobertas. Assim mudaram-se os hábitos e vem à tona o sentimento de uma nova viagem começando.

P ercebi que a ânsia de conhecer novas praias é invariavelmente proporcional à temperatura e assim meus olhos miram um cenário oposto.

Antes, durante o verão, era árduo ir para a City, pensar em enfrentar o concreto pegando fogo era descabido, agora a selva de pedra ficou palatável, finalmente conheci o Queen Victoria Building e seu pomposo jeito britânico de ser, o boêmio bairro de The Rocks com estilosos pubs e notas musicais surgindo a cada esquina, isso sem falar de Darling Harbour com um visual iluminadamente inspirador.

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Inevitavelmente os planos de viagem também deram uma guinada de 180º, sonhava com Tailândia e seus visuais afrodisíacos, mergulhar na grande barreira de corais era um destino sempre comentado, fazer um bate volta até a central coast sempre foi uma opção viável, o fato é que o tempo passou, não fiz nada disso e agora o que vem a mente, são estações de esqui em Camberra ou Melbourne e as geladase imponentes montanhas da Nova Zelândia.

Classificar todas essas mudanças é uma tarefa árdua, são apenas sensações distintas, contextos difíceis de serem comparados, mas uma das motivações de vir para cá foi algo que ai sim posso comparar, hierarquizar e cravar um posição: A qualidade das ondas. Apenas o início da temporada de surf já me presenteou com cenas que nunca tinha visto na vida. Ondas grandes, perfeitas e com vários surfistas profissionais na água. Apesar de ter trocado a vida saudável de surfista por um modelo sedentário e boêmio continuo amando fotografar surf. Admirando e respeitando tamanha imponência…

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Marco Estrella

Obs: Esse texto foi finalizado enquanto aguardava o ônibus para o trabalho, às 7 horas de uma gelada manhã de segunda-feira, mas com um cenário que poderia qualificar como no mínimo lúdico e inspirador. Não é?