Longe de casa muitas vezes a mente entra em pane. Momentos de euforia são intercalados por outros de intensa depressão. Loucuras desenfreadas seguidas por épocas de reclusão quase monástica. Nesse contexto confuso, vi meus 30 anos se aproximando e virando mais um tempero, às vezes indigesto, nessa receita que escolhi para minha vida.
Crise dos trinta? Sei lá o que é. O que eu sei é que, pela primeira vez, não tive vontade de comemorar meu aniversário, fazer uma festa, convidar os amigos. Na verdade até tive, mas esse desejo estava estritamente relacionado com o Brasil. Por mais que durante toda minha vida eu tenha sido movido a viajar, conhecer novos lugares, fazer novos amigos e colecionar fotos e experiências, nunca consegui me desvencilhar das minhas raízes. Alegria e sofrimento caminhando juntos, como antagonistas inseparáveis que perdem o sentido de existir quando estão sós.
Fui educado a viajar desde cedo, ainda na barriga da minha mãe frequentava as praias do litoral sul de São Paulo. Quando criança era companheiro dos meus avós nas excursões da Igreja. Na pré-adolescência, os finais de semana eram nas belas ilhas de Angra dos Reis. Aproveitei as regalias de ter minha mãe como funcionária da falida Transbrasil e viajei por grande parte do Nordeste. Virei surfista e troquei a família pelos meus amigos como parceiros de viagem para o litoral norte paulista, o que finalmente culminou na minha mudança para Florianópolis! Larguei o caos paulistano pela tranquilidade da vida caiçara. Pela primeira vez experimentava a sensação de sair de casa e por lá comemorei meus 20 anos!
Mesmo que perambulado por aí, sempre passei meus aniversários pertos dos mais chegados, rotina quebrada nos últimos três anos. Vinte e oito completados em Londres, vinte e nove em Sydney e trinta…
Mesmo em crise, a vontade de fazer algo marcante continuava rondando a minha cabeça. Uma festa de arromba parecia a idéia perfeita. Cheguei até a pesquisar barcos para alugar – estava disposto a gastar uma boa grana -, mas os elementos mais importantes de qualquer festa, os convidados, não pareceram muito empolgados. Então, comecei a pensar em fazer uma viagem inesquecível para um dos símbolos máximos da Austrália: Uluru, aquela imensa rocha no meio do Outback. Entretanto, o orçamento não permitiu. E como último plano pensei em uma caminhada de mais de 20km pela costa sul de Sydney (desafio e reflexão poderiam gerar boas lembranças), porém a previsão de tempo não era das mais promissoras. Tudo rumava para o fracasso quando uma amiga, que de tão amiga que é costumo chamá-la de Mano, deu a brilhante idéia:
– Porque você não faz algo muito louco, tipo… saltar de paraquedas pelado!
Palavras sábias que instantaneamente mudaram o semblante do meu rosto e fizeram meus olhos brilharem. Completaria mais um aniversário, e dessa vez no céu! No céu, mas devidamente vestido! O salto em si mais do que preenchia a dose necessária de loucura.
Embarquei para a viagem mais rápida da minha vida: 60 segundos de queda livre! Sem sentimentos ambíguos, mente vazia que foi preenchida apenas por adrenalina, uma liberdade única. Naquele momento não importava o lugar em que estava, a distância do que me faz falta, ali, no ar, consegui pela primeira vez não sentir as saudosas raízes. Efêmera, porém a mais inesquecível de todas as viagens.
Que venha a crise dos trinta, agora eu posso voar!