Dia 29 de janeiro completou um ano desde que nos mudamos para Sydney, lembro que uma das primeiras frases que ouvi foi:
– Pena que vocês não chegaram 3 dias antes para aproveitar o dia mais legal do ano por aqui. O Australia Day.
Após um ano, eu posso dizer que entendi o que me falaram. Dia 26 de janeiro celebramos nosso primeiro aniversário de Austrália, como passou rápido…
Contrariando padrões, quando o quesito julgado é a simpatia, os loirinhos de olhos claros daqui estão mais do nosso lado do que dos seus semelhantes europeus. Uma galera prestativa, lembrando moradores de alguma cidade do interior do brasileiro. Bom humor digno de mineiros e baianos.
Um ritmo de vida que lembra muito os cariocas da gema: praia, trabalho e, para encerrar o dia, praia de novo. Entretanto, aquele ar britânico, muitas vezes frio, ainda está lá, talvez bem no fundo da alma, mas está.
Australianos vão para escola de skate e bike, outros correm antes de ir para o trabalho, enquanto os velhinhos nadam nas piscinas que existem nos cantos das praias. Sapato para que? Nunca vi uma galera que gosta tanto de andar descalça. Tatuagem por aqui não é exclusividade dos jovens, cabelos propositalmente bagunçados e um diferente estilo de vestir-se são característicos.
Australianos saem pra balada quando ainda está claro e voltam no horário que normalmente estaríamos saindo aí no Brasil. Na Austrália, os homens têm boca seca e pescoço vermelho enquanto as mulheres não sabem andar de salto e mais parecem garças tingidas por seus bronzeados artificiais, mesmo assim continuam lindas. Por fim, eles amam saber da sua vida, bem no estilo “fofoqueira de bairro”. Quando você menos espera, eles perguntam sobre seu dia, trabalho e o seu visto, até para um brasileiro parece estranho, mas no final das contas é uma maneira deles se aproximarem de você.
Essa terra de camaradas com espírito tão brasileiro gerou um ano de conquistas. Sai do amadorismo e virei um fotográfo, tive uma foto publicada em um jornal local, outra selecionada para o Warringah Art Exhibition, além de ter fotografado outros eventos de alto calibre como: o Vivid Sydney e o The Falls Art and Music Festival.
Aqui tive a liberdade de deixar o cabelo crescer, barba por fazer e não ser classificado de alguma maneira pejorativa. Tive contato com um estilo de vida diferente e gostei!
Desculpem o lapso, voltemos ao Australia Day:
Completar um ano aqui tão próximo de um dos dias mais festivos para os Australianos foi marcante. Apesar dessa data simbolizar a colonização, o povo fez desse dia um momento patriótico. Momento de exaltar o Ser-Australiano e seu way of life, muito diferente daquele que encontramos na ilha imperialista, devo dizer que os ares do sul produziram um resultado muito bom para os descendentes dos presos vindos da Inglaterra.
Em nosso primeiro Australia Day, vi pessoas que fogem totalmente do esteriótipo australiano celebrando, com bandeiras, camisas da Austrália e corpos pintados.
Com a constante chegada de imigrantes, a cada dia sua população torna-se mais mestiça e multifacetada, uma miscigenação muito mais lenta da ocorrida no Brasil, porém mais intensa na atualidade.
Vi a praia lotada como nunca tinha visto antes, o cheiro de churrasco dominava as ruas e todos tinham um copo na mão para brindar nesse país que ao invés de abençoado por Deus o é pela rainha – e por escolha, em 1999 eles decidiram permanecer como seguidores da família real britânica.
Entramos no clima e fizemos nosso churrasco.
Animado ao som de uma banda com a cara da Austrália: bateria a cargo de um filipino, guitarra solo nas mãos de um australiano e o baixo, vocal e a guitarra base colocaram tempero brasileiro no caldeirão.
Celebramos essa terra tão receptiva, semelhante e ao mesmo tempo distante do Brasil.
Uma ótima maneira de marcar o nosso primeiro ano por aqui.